Abaixo, a autora Jessie Penn-Lewis descreve pontos fundamentais observados na vida daquele que tem em si a vida de Cristo estabelecida e, posteriormente, manifestada:
A vida estabelecida
“Mas o que nos confirma convosco em Cristo e o que nos ungiu é Deus…” (2 Co1.21). Unido a Cristo, e revestido com Ele, o espírito de fé possui de tal modo a alma que a vida de fé se torna tão fácil quanto respirar. É natural para um filho confiar em seu Pai. A vida de Deus na alma fluirá de volta para Ele em simples fé pueril. Há agora:
1.Uma fácil consideração da volta à Cruz e à sepultura de Cristo, como o fundamento da contínua libertação da velha vida. Agora a alma pode dizer: “Já estou crucificada com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida…vivo-a na fé…”(Gl 2.20). O Espírito Santo agora dá testemunho e vemos a Cruz de Cristo separando-nos de nós mesmos e do passado, para que o que consideramos verdade seja perdido de vista no conhecimento daquilo que é verdade, segundo a Palavra de Deus. Podemos pecar e desobedecer ao Senhor interiormente, mas o preço é tão amargo que clamamos: “Como eu pude?”. Então não tememos nada mais do que ofender o Espírito Santo de Deus, com o qual fomos selados para o dia da redenção. A alma também sabe que isso se mantém simplesmente pela fé, mas é a “fé operada em vós por Deus” (Cl 2.12).
2. Uma dependência contínua de Cristo como Aquele que vive, não por esforço ou por atos definidos de fé, mas muito mais por um descansado habitar Nele. Não sou eu mais que vivo, mas Cristo está vivendo em mim; e a minha vida exterior que ainda permanece, vivo-a na fé do Filho de Deus (Gl 2.20). Posso todas as coisas Naquele que me fortalece (Fp 4.13; 2 Co13.37). Falarei somente das obras que Cristo operou por mim… com o poder do Espírito de Deus (Rm 15.18- 19). A transição para Cristo pela Sua Cruz e sepultura é uma obra realizada nas próprias origens do nosso ser, nas profundezas secretas. Como vivemos Nele pela fé, a Sua vida trará rapidamente a ´casa terrestre deste tabernáculo´ (2 Co 5.1) sob Seu controle.
3.Um descanso agradável sob a cobertura do sangue aspergido sobre o trono de misericórdia, com um sentido profundo da sua necessidade momentânea de inquebrável comunhão. “… se andarmos na luz, como ele na luz está… o sangue de Jesus… nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7). “… em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue…” (1 Pd 1.2). Somente quando andamos na luz de Deus, que é intensificada dia a dia, podemos realmente permanecer sob o poder do sangue purificador. A alma pode andar com uma consciência limpa e não saber de nada contra si mesma, contudo não está justificada por causa disso. Ela nunca se aproxima do trono sem lembrar o Pai do sangue aspergido. Em qualquer transgressão consciente há a mesma instintiva aplicação instantânea à fonte aberta para o pecado, com a confissão honesta do pecado e a profunda humilhação diante do escabelo do Pai.
4.Um vivo apetite pela Palavra escrita como comida espiritual da nova vida. “… as palavras que eu vos disse são espírito e vida” (Jo 6.63). “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente…” (Cl 3.16; Jo 15.7). A Palavra de Deus é agora espírito e vida para a alma, quando dia a dia é revelada em beleza fresca pelo seu Autor. Ela é iluminada pela luz do Espírito e é realmente a voz de Deus ao coração que procura conhecê-Lo. A alma está profundamente consciente da necessidade de obediência implícita e de um caminhar sensível a toda vontade de Deus.
5. Um desejo intenso de continuar a conhecer o Senhor e entrar em todos os propósitos mais profundos de Deus. “Pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus… pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo…” (Fp 3.8). “… prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus” (Fp 3.12b). “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira…” (At 20.24). A vida de união com Cristo tem sido bem descrita como uma sucessão de avanços const antes para metas. À medida que a alma prossegue, a visão se alarga e o seu clamor se torna mais profundo, “para que eu possa conhecê-Lo”. Não há nenhuma finalidade, e nenhum estado de experiência para se basear, exceto a hora em que virmos o Senhor glorificado face a face e formos conformados a Ele perfeitamente.
A vida manifestada
“… trazendo sempre por toda parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos. E assim nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte… para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa carne mortal” (2 Co4.10-11). Mais e mais profundo ainda é o princípio de vida desligado das obras mortas, até que na aparição de Cristo aquilo que é mortal “seja absorvido pela vida” (2 Co 5.4). Paulo acrescenta: “Ora, quem para isso mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu também o penhor do Espírito” (2 Co 5.5). Da morte do Filho de Deus saiu vida eterna para o pecador, quando fomos reconciliados com Deus; a “vida sai da morte” para o crente, quando vimos que tínhamos morrido com Ele, e fomos assim libertos das rei vindicações do pecado. A vida celestial jorra da morte na mais abundante medida quando a vida terrena é entregue à Sua sepultura, e agora “vida sai da morte” para outras almas quando o crente, no “poder da Sua ressurreição”, é levado ainda mais profundamente para a comunhão dos Seus sofrimentos, “sendo conformado à Sua morte” (Fp 3.10).
A morte operando em mim opera vida em você (2 Co 4.12), é o segredo da vida contínua e que se torna cada vez mais profunda para outros através dos frágeis vasos de barro. A maior parte do sofrimento nos estágios iniciais era o sofrer por esmurrar o egoísmo em suas muitas fases, mas agora ele é o sofrer em comunhão com Cristo. Considerado como um enganador, contudo sendo verdadeiro; como desconhecido (pelos homens), ainda que reconhecido (por Deus). Algumas vezes como morto, ainda que esteja vivo; como punido pelo sofrimento, mas não destruído; como triste, porém sempre cheio de alegria; como pobre, mas fazendo com que muitos sejam ricos; como nada tendo, no entanto possuindo todas as coisas (2 Co 6.9-10). O corpo é apresentado a Deus para ser um sacrifício vivo, atado com as cordas do Seu amor às pontas do altar, derramado sobre o sacrifício e o serviço em favor de outros. “Em todas essas coisas somos mais do que vencedores.”
A vida pela qual Jesus venceu a morte mostra o seu poder carregando o vaso de barro – quebrado e fraco – na comitiva do Seu triunfo. A linguagem da alma agora é: “… pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo, segundo a minha intensa expectação e esperança… Cristo será… engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Fp 1.19-20). “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. (…) Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória…” (2 Co 4.16-17). “Mas em todas essas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida… nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade… nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Rm 8.37-39).
Extraído do livro The Pathway to Life in God (O Caminho para a Vida em Deus).