Celebrando Deus

Conquista Gradual

“Um dia haveremos de perceber mais claramente por que Deus permitiu que experimentássemos tantas quedas”

“Não os lançarei de diante de ti num só ano, para que a terra se não torne em desolação, e as feras do campo se não multipliquem contra ti. Pouco a pouco, os lançarei de diante de ti, até que te multipliques e possuas a terra por herança” (Êx 23.29,30).

É assim que acontece com os filhos de Deus. Se eles não tivessem inimigos externos e internos, e oposições no caminho, há algumas perigosas “feras” que estariam prontas a multiplicar-se dentro deles.
Por exemplo, há uma fera chamada orgulho, que pode multiplicar-se em você se não houver inimigos com quem você precise lutar. Por isso, um espinho na carne foi dado a Paulo para que ele não se exaltasse além da medida. Não é o espinho na carne uma medida eficiente para evitar a confiança na carne? Há uma fera chamada segurança carnal, que pode multiplicar-se em você. Mas há inimigos à sua volta, para evitar que você adormeça, para conservá-lo vigilante e andando, e constantemente alerta.
Há uma fera chamada presunção, que pode multiplicar-se em você, e fazê-lo pensar que é capaz de avançar para o céu por suas próprias pernas e por sua própria força, se você não enfrentar esses inimigos no caminho. Há uma outra fera chamada mentalidade mundana, que pode multiplicar-se em você, se não houver adversários e adversidades que fustiguem você, e o desmamem deste mundo.
Você estaria em perigo, se dissesse: “É bom estar aqui”. Mas as guerras e batalhas em seu caminho para o céu fazem com que você exclame de todo o coração: “Oh! É melhor estar lá”. Há uma fera, uma fera imunda e violenta, chamada sensualidade, que pode multiplicar-se em você, crente, e pode torná-lo morno e formal em todos os seus deveres, e também carnal e leviano entre um dever e outro. Mas a visão dos seus inimigos espirituais no campo de batalha fará com que você veja a necessidade de ser espiritual, zeloso, sério e fervoroso de espírito, servindo ao Senhor.
Também há uma fera muda, chamada esquecimento, que certamente se multiplicaria em você, e seria muito perigosa para a sua alma e para o seu bem-estar espiritual, se os seus inimigos fossem todos destruídos. Por essa razão, Deus diz: “Não os mates, para que o meu povo não se esqueça” (Sl 59.11). Se a execução fosse rápida e ligeira, as impressões causadas por eles não seria profunda e durável. As destruições imediatas atemorizam os homens no momento — mas são rapidamente esquecidas; por isso, quando pensamos que os juízos de Deus sobre as nações dos nossos inimigos espirituais vêm bem lentamente, temos de concluir que Deus tem sábios e santos propósitos nesse procedimento gradual. “Não os mates, para que o meu povo não se esqueça”.
Sim, leitor cristão, Deus tem uma boa razão para permitir que os desejos da carne se enfureçam, de vez em quando, dentro de você. Todos os Seus caminhos se caracterizam por infinita sabedoria, mesmo que muitas vezes sejamos incapazes de discerni-los. É assim no caso que estamos considerando. Quantas vezes os santos têm ficado confusos, perguntando por que Deus não concede a vitória sobre o pecado interior, mesmo depois de orar tanto tempo e tão fervorosamente.
O fracasso é necessário – tanto quanto a vitória. A tristeza é tão necessária quanto a alegria. O nosso lugar apropriado diante de Deus é no pó, e se deixamos esse lugar, Ele permite que Satanás nos derrube, para arrojar-nos de volta ao pó! Além disso, como o Sr. Erskine destaca, nossas graças precisam ser exercitadas, se quisermos evitar que nossos “inimigos” tenham domínio sobre nós. Um dia haveremos de perceber mais claramente por que Deus permitiu que experimentássemos tantas quedas, e tantas “paradas” todos os nossos dias; e por que foi “pouco a pouco” que Ele venceu nossos inimigos espirituais.

Tradução: Helio Kirchheim

 

Fonte: Extraído de um sermão de Ralph Erskine, 1760