Celebrando Deus

Consagração – Lições Básicas para a Vida Cristã Prática

A consagração aponta não a pregação ou o trabalho para Deus, mas o servir a Deus.

Na edificação de um novo crente, o primeiro problema a resolver é o assunto da consagração. Mas se ele puder ou não admitir esta lição depende em grande parte de quão eficazmente ele foi salvo. Se o evangelho não se apresentou corretamente, aquele que vem ao Senhor Jesus pode considerar-se a si mesmo como fazendo um grande favor a Deus. Para uma pessoa como ele, converter-se em um cristão acrescenta muita glória à cristandade! Sob tal ilusão, como alguém poderá lhe falar a respeito da consagração? Inclusive uma rainha tem que ser conduzida ao ponto onde ela ponha com alegria a sua coroa aos pés do Senhor. Todos nós precisamos atentar que somos nós os favorecidos pelo Senhor ao sermos amados e salvos. Só assim então podemos desejar deixar todas as coisas.

As bases da consagração

Vejamos primeiro o Novo Testamento. Ali encontramos como os filhos de Deus são constrangidos por amor a viver para o Senhor que morreu e ressuscitou por eles (II Cor. 5:14). A palavra constrangido significa estar firmemente sujeito ou ser rodeado de modo que as pessoas não possam escapar. Quando uma pessoa é movida pelo amor, experimentará tal sensação. O amor o atará e ele estará assim sem valer-se por si mesmo.

O amor, portanto, é a base da consagração. Ninguém pode consagrar-se sem sentir o amor do Senhor. Tem que ver primeiro o amor do Senhor para depois poder consagrar a sua vida. É inútil falar de consagração se não se deseja o amor do Senhor. Depois de ter visto o amor do Senhor, a consagração será a conseqüência inevitável.

No entanto, a consagração se apóia também no direito ou na prerrogativa divina. Esta é a verdade que encontramos em I Cor. 6:19-20. “Ou ignorais que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, o qual está em vós, o qual têm de Deus, e que não sois vossos? Porque fostes comprados por preço; glorificai, pois, a Deus em vosso corpo e no vosso espírito os quais pertencem a Deus”.

Hoje, entre os cristãos, este assunto de ter sido comprado por preço não pode ser entendido cabalmente. Mas, para os coríntios no tempo do império romano, isto estava perfeitamente claro. Por quê? Porque naquele tempo tinha comércio de humanos. Tal como hoje que você pode ir ao mercado para comprar frango ou pato, da mesma forma podiam-se comprar seres humanos no mercado humano.

A única diferença era que os preços dos mantimentos estavam mais ou menos estabelecidos, enquanto que, no mercado humano, o preço de cada alma era estabelecido fazendo uma oferta no leilão. Aquele que fazia a oferta mais elevada obtinha o homem, e quem possuía o escravo tinha poder absoluto sobre ele. Paulo utiliza esta metáfora para nos mostrar o que o nosso Senhor tem feito por nós e como ele deu a sua vida como resgate para nos comprar de novo para Deus. O Senhor pagou um grande preço – a sua própria vida. E hoje, por causa dessa obra de redenção, nós cedemos os nossos direitos e perdemos a nossa soberania. Já não somos de nós mesmos, porque pertencemos ao Senhor; portanto, devemos glorificar a Deus em nossos corpos. Somos comprados por preço, o sangue da cruz. Visto que somos comprados, somos seus por direito, por prerrogativa divina.

Por um lado, por amor, escolhemos servi-lo; e por outro lado, por direito, não somos nossos. Nós devemos seguir a ele; não podemos fazer de outra maneira. De acordo ao direito de redenção, somos seus; e segundo o amor que o resgate gera em nós, devemos viver para ele. Uma base para a consagração é o direito legal e a outra base é a resposta de amor. A consagração está, pois, apoiada no amor, que ultrapassa o sentimento humano, assim como no direito segundo a lei. Por estas duas razões, nada podemos, a não ser pertencer ao Senhor.

Significado real da consagração

Nós devemos saber que ser constrangidos pelo amor não é ainda a consagração; nem tampouco ver o direito do Senhor constitui ainda a verdadeira consagração. Depois que alguém foi constrangido pelo amor e viu a prerrogativa do Senhor, é necessário fazer algo adicional. Este passo extra nos põe na posição da consagração. Sendo constrangidos pelo amor do Senhor e sabendo que fomos comprados, apartamo-nos quietamente de tudo para ser inteiramente do Senhor.

Esta é a consagração descrita no Antigo Testamento. É a aceitação de um ofício santo, o ofício de servir ao Senhor. “Oh Senhor, sendo eu amado, que mais posso fazer a não ser me separar de tudo para poder te servir? Daqui em diante, ninguém pode utilizar as minhas mãos ou meus pés, minha boca ou meus ouvidos, porque estas minhas duas mãos são para fazer as suas obras, meus pés para andar em seu caminho, minha boca para cantar o seu louvor, e meus ouvidos para ouvir a sua voz”. Isto é consagração.

Suponhamos que você compre um escravo e o traga para o seu lar. Na porta de sua casa, o homem se ajoelha e te rende homenagens, dizendo: “Amo, você me compraste. Hoje atendo com alegria as suas palavras”. Porque o fato de que você o tenha adquirido é uma coisa, mas que ele se humilhe diante de ti e proclame o seu desejo de te servir é algo mais. Porque o compraste, ele reconhece o teu direito. Mas, porque o amaste mesmo que ele seja tal tipo de homem, ele se declara inteiramente teu. Só isso é consagração.

A consagração é mais que o amor, mais que a compra; é a ação que segue ao amor e à compra. Dali em diante, aquele que se consagra é separado de tudo neste mundo, de todos os seus amos anteriores. Sucessivamente, ele não fará nada a não ser o que o seu amo lhe ordena. Ele se restringe a fazer somente as coisas daquele único dono. Este é o real significado da consagração.

O propósito da consagração

A consagração aponta não a pregação ou o trabalho para Deus, mas o servir a Deus. A palavra “serviço” no original tem o sentido de “esperar em”, quer dizer, esperar em Deus para lhe servir. A consagração não implica necessariamente no trabalho incessante, porque o seu objetivo é esperar em Deus. Se ele quiser que estejamos em pé, pomo-nos em pé; se ele quiser que esperemos, esperamos; e se ele quiser que corramos, correremos. Este é o verdadeiro significado de “esperar nele”.

O que Deus requer de nós é que apresentemos os nossos corpos a ele, não com o fim de subir ao púlpito ou de evangelizar em terras longínquas, mas de esperar nele. Sem dúvida, alguns podem ter que aceitar o púlpito, já que foram enviados ali por Deus. Alguns podem ser constrangidos a ir a terras distantes, porque foram comissionados por Deus para ir. O trabalho em si varia, mas o tempo consumido segue sendo o mesmo – toda a nossa vida. Precisamos aprender a esperar em Deus. Oferecermos os nossos corpos para que possamos ser aqueles que servem.

Uma vez que nos convertemos em cristãos, devemos servir a Deus por toda a vida. Logo depois de um médico se tornar um cristão, a medicina retrocede de ser a sua vocação para ser a sua afeição. O mesmo ocorrerá com o engenheiro. A demanda do Senhor ocupa a primeira prioridade; servir a Deus se converte no trabalho principal. Se o Senhor permitir, posso desempenhar-me na medicina ou na engenharia para ganhar o meu sustento, mas não poderei fazer deles o meu trabalho de vida. Alguns dos primeiros discípulos eram pescadores, mas, depois que seguiram o Senhor, eles já não esperavam ser grandes pescadores e bem-sucedidos. Pode ser que lhes fosse permitido pescar de vez em quando, mas o seu destino foi alterado.

Que a graça de Deus nos assista, especialmente aos crentes jovens, para que todos possamos ver como a nossa vocação foi mudada. Que todos os professores, doutores, enfermeiras, engenheiros e industriais vejam que agora a sua vocação é servir a Deus. Suas vocações anteriores retrocederam para serem afeições. Eles não devem ser muito ambiciosos em seus campos específicos, embora o Senhor possa dar a alguns deles posições especiais. Aqueles que servem a Deus não podem esperar serem prósperos no mundo, porque estas duas coisas são contraditórias. Daqui em diante, apenas devemos servir a Deus; não temos outra via ou destino.

Na consagração, a nossa oração é: “Oh Senhor, tu me deste a oportunidade e o privilégio de vir diante de ti e de te servir. Senhor, sou teu. Daqui por diante os meus ouvidos, minhas mãos e meus pés, sendo comprados pelo teu Sangue, são exclusivamente teus. O mundo já não pode utilizá-los, nem eu tampouco”. Qual é, então, o resultado? O resultado será a santidade, porque o fruto da consagração é a santidade.

Em Êxodo 28 temos por um lado a consagração e pelo outro a santidade ao Senhor. Precisamos ser conduzidos para ver que depois de termos sido convertido em cristãos, estamos inutilizados para todo o resto. Isto não significa que vamos ser menos fiéis em nossos trabalhos seculares. Não, nós devemos estar sujeitos às autoridades e cumprir com fidelidade as nossas tarefas. Mas vimos diante de Deus que a nossa vida deve ser gasta no caminho de servir a Deus; todas os demais trabalhos são secundárias.

Traduzido do Spiritual Exercise,
(Christian Fellowship Publishers, 2007). Revista Águas Vivas.

Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support