Celebrando Deus

Cuidado com o que você lê

“Atentai no que ouvis”

A palavra “atentai” inclui, obviamente, aquilo que se lê, porque aquilo que está escrito se dirige aos ouvidos do nosso intelecto. Há poucas pessoas, hoje, que entendem a premente necessidade de “tomar cuidado” com aquilo que lêem. Da mesma forma que a comida natural que se ingere ou ajuda ou atrapalha o corpo — assim o alimento mental que recebemos ou beneficia ou prejudica a mente, e isso, por sua vez, afeta o coração. Da mesma forma que é prejudicial ouvir o lixo e o veneno que é servido na grande maioria dos púlpitos de hoje — assim é muitíssimo prejudicial para a alma ler a maioria do que hoje é publicado pelas editoras chamadas cristãs. Atenta no que ouves e no que lês! Mas tentemos ser mais específicos.

A única coisa que merece de fato ser chamada “religião” é a vida de Deus na alma — começada, desenvolvida, e consumada unicamente pelo Espírito Santo. Por conseguinte, qualquer coisa, não importa o que seja, que não possui o selo da unção do Espírito, deveria ser rejeitada pelo cristão. Isso porque as mensagens sem a unção não somente não nos fazem bem, mas também porque aquilo que não procede do Espírito tem como origem a carne. Eis, então, o teste que os filhos de Deus deveriam aplicar a tudo o que ouvem, e aqui está a balança em que deveriam pesar tudo o que lêem. É verdade, há vários graus de unção do Espírito. Como acontece no nível natural, acontece também no espiritual — haverá uma variação entre a umidade do orvalho e a umidade produzida por uma chuva copiosa. Assim como havia sal em cada sacrifício (Lv 2.13), assim cada palavra ou artigo inspirado pelo Espírito deve ser “temperado com sal” (Cl 4.6). Mas quanta coisa hoje está destituída de sabor e aroma espiritual!

Alguns do amado povo de Deus podem considerar que talvez seja presunçoso colocarem-se como juízes daquilo que ouvem ou lêem — mas isso é um grave erro, e isso tanto é falsa humildade como é esquivar-se de responsabilidade. O apóstolo censurou os hebreus porque o juízo deles (as suas faculdades espirituais) não estavam desenvolvidas para discernir entre o bem e o mal (Hb 5.13). Isso é como chamar de orgulho o fato de alguém avaliar (julgar) os gêneros alimentícios e a carne que se compram no mercado. Talvez outros perguntem: “Mas como é que pessoas simples e incultas podem avaliar as diferentes publicações da atualidade?” De forma muito simples: quando você prova o seu alimento natural, como você determina se está bem t emperado ou não? Pelo paladar, é claro. E assim é também espiritualmente: o “novo homem” também tem um paladar! Se o Deus da criação nos deu um paladar natural com o objetivo de distinguir entre comida saudável e comida não-saudável, o Deus da graça proveu o Seu povo com uma capacidade, um juízo espiritual, para distinguir entre comida nutritiva e comida imprópria e danosa para a alma. “Porque o ouvido prova as palavras, como o paladar, a comida” (Jó 34.3). Você faz isso, meu leitor? Você é tão cauteloso com o que admite em sua mente — como com o que admite no seu estômago? Com certeza você deveria fazer isso, porque a mente é muito mais importante do que o estômago. Se você come algum alimento estragado, pode ingerir um purgante e livrar-se dele; mas se você devorou alimento mental prejudicial, isso vai permanecer com você! “O ouvido prova as palavras.” Mais uma vez perguntamos: O seu ouvido faz isso, querido leitor? Você está aprend endo a distinguir entre “letra” e “espírito”; entre a “forma” e o “poder”; entre o que é terreno e o que é do céu; entre o que é sem vida e sem unção, daquilo que está  impregnado do sopro de Deus? Se a sua resposta é “não”, então o grande prejudicado é você mesmo.

Quantos amados filhos de Deus ouvem os autômatos pregadores ortodoxos de hoje, e mesmo assim nada encontram que satisfaça as necessidades das suas  pobres almas! E quantos não fazem assinaturas de revistas uma após a outra, na esperança de encontrar o que possa ajudá-los a combater o bom combate da fé — unicamente para ficarem desapontados? Aquilo que ouvem e o que lêem não penetra nem permanece neles — são palavras sem poder — elas nem humilham nem exaltam — não produzem nem a tristeza segundo Deus nem o gozo de Deus. As mensagens que eles ouvem ou lêem lhes caem nos ouvidos como histórias banais e sem valor — não atingem de forma nenhuma a situação deles nem ministram às sua s necessidades. Depois de ouvirem uma centena desses “sermões” ou de lerem centenas desses periódicos, eles não estão em situação melhor do que estavam antes de fazê-lo!

Eles não estão nem mais longe do mundo — nem mais perto de Deus! Muitas vezes demora muito antes que os filhos de Deus se dêem conta disso. Eles se culpam; eles relutam excessivamente para dizer: “Esta mensagem não é de  Deus”. Eles temem agir, nos assuntos espirituais, da mesma forma que fazem nos naturais; eles demoram para condenar e descartar aquilo que não presta. Apesar de sentirem a falta de poder nos sermões que ouvem, ou n os artigos que lêem, e embora a alma deles de forma constante se torne seca como um caco de barro — eles são lerdos em perceber que esse é o efeito inevitável da pregação sem unção que estão ouvindo, ou da literatura sem unção que estão lendo; e que essa sequidão e fraqueza espiritual é inevitável — por estarem associados com pessoas que professam a fé mas não têm conteúdo nem jamais se humilharam diante de Deus. Mas no devido tempo Deus lhes abre os olhos, e passam a ver através do fino véu e descobrem que tanto os sermões que ouvem, quanto a literatura que lêem — são meros produtos de uma profissão de fé morta! Ah, é uma grande coisa quando o Espírito Santo ensina a uma alma que é poder aquilo que falta na pregação morta e nos escritos mortos de autores e pregadores mortos. É poder que a alma renovada pr ocura — uma mensagem que tenha poder para lhe perscrutar, penetrar e despertar a consciência, para imprimir a verdade no seu coração; uma mensagem que tenha poder para prostrá-la de joelhos em sincera confissão a Deus, com o coração quebrantado; uma mensagem que tenha poder para fazê-la sentir que é indigna (Jó 40.4); uma mensagem que tenha o poder de conduzi-la a Cristo, para serem atadas as suas feridas, para que Ele as unte com “óleo e vinho”, e depois a despeça regozijando-se pelo caminho. Sim, aquilo que a alma renovada anseia (embora a princípio não o saiba) é aquela mensagem de Deus que chega até ela não “tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5).

Mais cedo ou mais tarde, todo cristão passa a valorizar o “poder”, e a considerar como sem valor qualquer coisa que esteja destituída dele. É pelo poder de Deus que ele é ensinado em sua própria alma, pelo qual passa a sentir profundamente a sua pecaminosidade, sua carnalidade, sua miséria. É o poder de Deus operando em seu coração — o mesmo poder que levantou Cristo de entre os mortos (Ef 1.19,20) — que dirige as afeições dele para as coisas lá do alto e faz que a sua alma anele o próprio Deus “Como suspira a corça pelas correntes das águas” (Sl 42.1). É o poder de Deus operando nele que revela ao seu espírito sobrecarregado o trono da graça, e faz com que ele implore misericórdia e busque graça “para socorro em ocasião oportuna”. É esse poder de Deus operando nele que o faz suplicar: “Guia-me pela vereda dos teus mandamentos, pois nela me comprazo” (Sl 119.35). Aqueles que são participantes desse poder de Deus (e são poucos em número) não podem jamais ficar satisfeitos com um ministério sem poder — nem oral, nem escrito.

“Os que são segundo a carne, põem a sua mente nas coisas da carne” (Rm 8.5). Eles são seduzidos pela oratória eloquente, pelos ditos atraentes, pelas citações inteligentes, e pelas ilustrações divertidas. É desse tipo de alfarrobas que os “porcos” religiosos se alimentam! Mas o pródigo penitente não consegue alimentar-se dessas coisas! As pessoas “do mundo” — e pode até ser que tenham graduação em algum Instituto Bíblico ou possuam diploma de algum Seminário Bíblico, e se nomeiem “pregadores do Evangelho” — essas pessoas falarão das coisas do mundo “e o mundo os ouve” (1 Jo 4.5). Mas aqueles que estão procurando desenvolver a sua própria salvação “com temor e tremor” não são ajudados por esse s tais. Sim, eles percebem claramente que

esse tipo de sermão ou periódico não passa de “cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.13).

“Atentai no que ouvis” e no que ledes! Muito tempo atrás, o piedoso Adolph Saphir escreveu o seguinte: “Eu acho que quanto menos livros nós lermos, tanto melhor. É como nos tempos da cólera, quando devemos tomar unicamente água filtrada”. O que ele não diria se estivesse na terra hoje e visse o veneno mortal espalhado pelos heterodoxos, e as futilidades mortas publicadas pelos ortodoxos?! Leitor cristão, se você dá valor à saúde da sua alma, pare de ouvir e acabe co m tudo o que é morto, sem unção, sem poder, não importa a qual nome famoso esteja atrelada a mensagem. A vida é curta demais para desperdiçar tempo precioso naquilo que não tem proveito nenhum. Noventa e nove de cada cem livros religiosos, livretos e revistas que são publicados atualmente, não valem o papel onde foram impressos!

Afastar-se dos pregadores sem vida e dos que publicam coisas desse tipo pode acarretar uma verdadeira cruz. As suas motivações serão mal compreendidas, as suas palavras serão distorcidas, e as suas ações serão mal interpretadas. As afiadas flechas da calúnia se voltarão contra você. As pessoas dirão que você é orgulhoso e justo aos seus próprios olhos, pelo fato de você recusar ter comunhão com professantes vazios. Se você condenar abertamente os sutis enganos de Satanás, dirão que você é inclinado à crítica rigorosa, e que é amargo. Você será apelidado de mente estreita e descaridoso, porque se recusa a cantar louvores aos homens “grandes” e “populares” do momento. Mais e mais, você será levado a perceber dolorosamente que o caminho que conduz à vida eterna é “estreito” e que POUCOS são os que acertam com ele. Queira o Senhor agradar-Se de outorgar a cada um de nós um ouvido atento e um coração obediente! “Atentai no que ouvis” e no que ledes!