Celebrando Deus

Os Frutos da Obediência

“Tome a Cruz e viva sacrificialmente”

Obedecer no Novo Testamento significa dar atenção sincera à Palavra, submeter-se à sua autoridade e apregoar as suas instruções. A obediência neste sentido está quase morta na cristandade moderna. Pode ser ensinada de vez em quando de uma forma débil, mas não é suficientemente enfatizada para dar a ela poder sobre a vida dos ouvintes. Pois, para se tornar efetiva, uma doutrina não deve apenas ser recebida e mantida pela Igreja, mas deve ter por trás dela tal pressão de convicção moral que a ênfase cairá como um golpe, acendendo a energia interior.

A Igreja dos nossos dias suavizou a doutrina da obediência, negligenciando-a completamente ou mencionando-a somente apologeticamente e sem urgência. Isso resulta de uma confusão fundamental entre obediência e obras. Para evitar o erro da salvação pelas obras caímos no erro oposto da salvação sem obediência. Em nossa ânsia de nos livrar da doutrina legalista das obras nos libertamos da obediência também. A Bíblia não sabe nada sobre a salvação à parte da obediência. Paulo declarou que foi enviado para pregar “a obediência da fé entre todas as gentes” (Rm 1:5). Ele lembrou os cristãos romanos de que tinham sido libertados do pecado porque tinham “obedecido de coração à forma de doutrina a que foram entregues” (Rm 6:17). No Novo Testamento não há nenhuma contradição entre fé e obediência, entre a fé e as obras da lei, entre lei e graça e entre fé e obediência. A Bíblia não reconhece a fé que não leva à obediência, nem reconhece qualquer obediência que não brote da fé. As duas são lados opostos da mesma moeda. Portanto a fé e a obediência estão para sempre unidas, e cada uma é sem valor quando separada da outra. O problema com muitos de nós hoje é que estamos tentando crer sema intenção de obedecer.

A mensagem da Cruz contém dois elementos. 1) Promessas e declarações a serem cridas, e 2) mandamentos a serem obedecidos. Obviamente a fé é necessária em primeiro lugar e a obediência em segundo. A única coisa que podemos fazer com uma promessa ou a afirmação de um fato é crer nele. É impossível obedecê-lo, pois não está direcionado à vontade, mas à compreensão. É igualmente impossível crer num mandamento por não estar dirigido à nossa compreensão, mas à nossa vontade. A verdade é que podemos ter fé em sua justiça, podemos ter confiança de que ele é um mandamento bom e justo, mas isso não é suficiente. Até que tenhamos obedecido ou tenhamos recusado a obedecer não fizemos nada a respeito dele. Esforçar-se para exercer fé em relação àquilo que está dirigido à nossa obediência é nos enroscar num labirinto de impossibilidades.

A doutrina de Cristo crucificado e a riqueza das verdades que gira em torno dela têm nelas este conteúdo duplo. O apóstolo pode falar “da obediência da fé” sem dizer contradições. E pode dizer: “O Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16), e “Ele veio a ser a causa da eterna salvação para todos os que lhe obedecem”(Hb 5:9). Não há nada incompatível entre essas afirmações quando são entendidas à luz da unidade essencial entre a fé e a obediência. A fraqueza em nossa mensagem hoje é a nossa ênfase exagerada à fé com uma correspondente subênfase à obediência. Isso foi fazendo com que o “crer” fosse se tornando o dobro do “obedecer” na mente de milhões. O resultado é uma multidão de cristãos mentais cujo caráter é malformado e cuja vida é completamente fora de proporção. A imaginação foi erroneamente tomada por fé e a crença foi despojada do seu conteúdo moral, e tornada um pouco mais do que um consentimento da verdade do Evangelho.

Há cristãos que viveram tanto tempo no ar rarefeito da imaginação que parece quase impossível relacioná-los à realidade. A não obediência paralisou as suas pernas morais e dissolveu a sua espinha dorsal, e caíram em um amontoado esponjoso de teorias religiosas, crendo em tudo ardentemente, mas não obedecendo nada em absoluto.

Eles ficam profundamente chocados com a própria menção da palavra “obedecer”. Para eles isso parece heresia e presunção e é o resultado de uma falta do correto entendimento da palavra da verdade. Poderíamos passar por cima disso não tivesse esse ´credo´ influenciado praticamente cada canto do mundo cristão, capturado as escolas Bíblicas, determinado o conteúdo da pregação evangélica e ido mais longe para decidir que tipo de cristão seremos. Sem dúvida a concepção popular errônea da função da fé e o fracasso dos nossos professores em insistirem na obediência enfraqueceram a Igreja e retardaram o reavivamento nos últimos cinquenta anos.

A única cura é a remoção da causa. Isto requererá um pouco de coragem, mas dignificará a labuta. Estamos sempre em perigo de nos tornar vítima das palavras. Uma frase religiosa pode facilmente tomar o lugar da realidade espiritual. Um exemplo é a expressão “Seguir o Senhor”, tão frequentemente usada entre os cristãos. Negligenciamos o fato que isso não pode ser tomado literalmente. Não podemos hoje, como puderam aqueles primeiros discípulos, seguir o Mestre em uma dada área geográfica. Temos a tendência de pensar nisso literalmente, mas ao mesmo tempo de sentir que é uma impossibilidade literal, como resultado isso acaba por significar pouco mais do que um acenar com a cabeça concordando com as verdades da cristandade.

Pode nos assustar aprender que “seguir” é uma palavra no Novo Testamento usada para abrigar a ideia de um hábito determinado de obediência aos mandamentos de Cristo. Veja os frutos da obediência como descritos no Novo Testamento. A casa do homem obediente é construída sobre uma rocha (Mt 7:24). Ele será amado pelo Pai e terá a manifestação do Pai e do Filho, que virão a ele e farão dele a Sua casa (Jo 14:21-23). Ele viverá no amor de Cristo (Jo 15:10). Pela obediência às doutrinas de Cristo ele é liberto do pecado e feito servo da justiça (Rm 6:17-18). O Espírito Santo é dado a ele (At 5:32). Ele é liberto do auto-engano e abençoado em seus feitos (Tg 1:22-25). A sua fé é aperfeiçoada (Tg 2:22). Ele é confirmado em sua segurança em relação a Deus e lhe é dada confiança na oração, para que o que peça lhe seja dado (1 Jo 3:18-22).

Esses são apenas alguns dentre muitos versos que podem ser citados do Novo Testamento. Mas mais objetivamente do que qualquer quantidade de textos comprobatórios é o fato de que o ensino do Novo Testamento é somente nessa direção. Um ou dois textos poderiam ser mal entendidos, mas não há erro em todo o ensino da Escritura.

O que tudo isso acrescenta? Quais são as suas implicações práticas para nós hoje? Exatamente porque o poder de Deus está a nossa disposição, esperando por nós para colocá-lo em ação pelo cumprimento das condições que são claramente estabelecidas. Deus está pronto para enviar inundações de bênçãos sobre nós quando começamos a obedecer às Suas claras instruções. Não precisamos de nenhuma nova doutrina, nenhum novo movimento, nenhum evangelista importado ou curso caro para nos mostrar o caminho. Ele está claro diante de nós.

A qualquer inquiridor eu diria: “Apenas faça a próxima coisa que você sabe que deve fazer para levar a cabo a vontade do Senhor. Se há pecado em sua vida, deixe-o imediatamente. Ponha de lado a mentira, a fofoca e a desonestidade ou qualquer que seja o seu pecado. Renuncie os prazeres mundanos, a extravagância nos gastos, a vaidade no vestir, na sua casa. Acerte-se com qualquer pessoa que possa ter ofendido. Desculpe a todo aquele que pode tê-lo ofendido. Comece a usar o seu dinheiro para ajudar os pobres e promover a causa de Cristo. Tome a Cruz e viva sacrificialmente. Ore, participe das reuniões em torno do Senhor. Testemunhe de Cristo, não só quando é conveniente, mas quando souber que deveria. Não olhe para o custo e não tema as consequências. Estude a Bíblia para aprender a vontade de Deus e então faça a Sua vontade como a entende. Comece agora fazendo a próxima coisa, e então continue dali.”

Do livro: Paths to Power (Caminhos para o Poder).

Fonte: Revista O Vencedor – fevereiro, 2013