Santidade é simplesmente outro termo para saúde, sendo ambos derivados da antiga palavra anglo-saxônica “halig”, com o significado de inteiro, completo. Seria perfeitamente acertado falar de um corpo santo e uma alma e um espírito saudáveis, mas chegamos a falar de santidade corporal como saúde e de saúde espiritual como santidade. Santidade não é maturidade, não é finalidade; é antes uma condição para o crescimento até a maturidade e a finalidade.
No terceiro capítulo de Filipenses, Paulo nos apresenta um esboço biográfico completo. Ele menciona primeiro a velha vida na qual confiava anteriormente, e na qual ainda poderia ter confiança na carne, medindo-a pelos padrões de outros homens. A seguir, ele prossegue para o ponto que as coisas que conquistara foram consideradas como perda por Cristo. Observe o que diz:
“Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.
E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor…” Filipenses 3:7,8.
No passado, no caminho para Damasco, ele considerou como perda as coisas de que se orgulhara quando se rendeu totalmente, com todas as suas esperanças, aspirações e preconceitos – absolutamente tudo – a Cristo, e disse: “Senhor, que queres que eu faça?” Agora, mais de trinta anos depois, ele ainda considera todas as coisas como perda. Paulo não desistiu da posição que havia tomado tanto tempo atrás, e justamente por estar nessa posição é que permanece ainda no lugar de bênção e poder.
O que mais está ele buscando? “Não que já tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus”. O Apóstolo continua a dizer no verso 15: “Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo; e se sentis alguma coisa doutra maneira, também Deus vo-lo revelará”. Das palavras traduzidas como “perfeito” são diferentes os seus sentidos no original. O verso 12 pode então ser lido assim: “Não que já tenha alcançado ou que já tivesse sido aperfeiçoado”. E o verso 15: “Pelo que todos quantos somos perfeitos”. A diferença entre ser aperfeiçoado e ser perfeito é a diferença que existe entre a maturidade da vida cristã e a santidade, a diferença entre a condição na qual posso estar agora e aquela que jamais atingirei até que meu Senhor volte e transforme meu corpo de humilhação, fazendo-o conforme o modelo do corpo da Sua glória. Eu serei aperfeiçoado quando O vir como Ele é; minha natureza, e até mesmo este corpo, serão transformados da semelhança perfeita Dele mesmo. Eu nunca poderei ser aperfeiçoado aqui, mas posso ser perfeito no sentido de ser feito completo.
O apóstolo usa o exemplo de uma corrida para ilustrar a vida cristã, e penso que ele pode ser parafraseado assim: “Ainda não estou aperfeiçoado, ainda não fui coroado; aquilo para o que o meu Senhor me prendeu não foi o lugar de tentação e conflito, mas a radiância do dia jubiloso em que Ele me apresentará – eu, a quem Ele encontrou tão desprezível – à própria presença de Deus, perfeito como Ele mesmo é perfeito. Este é o alvo da minha corrida, é o ponto de coroação que ainda não atingi; mas”, diz ele, “nós todavia, tantos quantos somos perfeitos” – todos quantos estão correndo na força e energia do Espírito Santo, com todo o peso e pecado postos de lado, e com a própria alegria e amor de Deus nos possuindo. Assim podemos ser perfeitos. É a diferença entre a coroa sobre a fronte, e a atitude ardorosa da vida que tem a coroa como alvo e esquecendo-se de tudo que fica para trás, prossegue em direção a ela com um propósito de vida completo e pleno.
Esta condição de vida é a da alma saudável perante Deus, a condição de perfeição no momento presente, cuja condição deveria caracterizar todo filho de Deus, a partir do momento da sua conversão.
A flor na árvore é perfeita, esplendidamente perfeita, mas não está aperfeiçoada. Não é consumação, não é maturidade. Ela precisa do ministério do Sol, da chuva, da atmosfera, para levá-la à perfeição. Somente depois que o ardor do outono venha sobre ela, a ela se apresente em toda a glória do fruto perfeito, que será então aperfeiçoada.
Coloque uma criança de seis meses ao lado de um homem de quarenta anos, que diferença! Ambos são perfeitos, mas o homem está aperfeiçoado com a perfeição da maturidade.
A DIFERENÇA ENTRE MATURIDADE E SAÚDE
Filipenses 2:12,13: “Para tornar clara esta diferença entre maturidade e saúde, vamos tomar três passagens das escrituras: De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor;
Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.
“É DEUS”. Eu devo desenvolver do lado de fora o que Deus opera do lado de dentro, jamais posso desenvolver por fora mais do que aquilo que Deus opera por dentro. Somente quando percebemos isto, é que chegamos ao lugar de saúde e bênção.
1 Tessalonicenses 5:23,24: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
Fiel é o que vos chama, o qual também o fará”.
“O qual também o fará”. Não somos nós que devemos preservar irrepreensíveis estes três grandes setores do nosso ser; é Deus quem fará isso, e tudo que precisamos fazer é nos apoiar Nele e reconhecer que esta obra é Dele.
Hebreus 13:20,21: “Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas,
Vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém”.
Observe que o que deve me santificar é o poder que tornou a trazer Jesus de entre os mortos. A única coisa impossível, em todos os tempos, era a ressurreição de um homem dentre os mortos, mas todo o edifício do cristianismo descansa nisso, e o poder estupendo que O trouxe de dentre os mortos é o poder que deve efetuar a minha santificação e minha perfeição. Elas independem dos meus pobres e miseráveis esforços, mas são resultado da força de Deus que trouxe dos mortos a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Judas 1:24,25: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória,
Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”.
A tradução correta é “vos guardar de tropeçar”, e não apenas de cair. E o que mais? “Apresentar-vos não somente irrepreensíveis, mas perfeitos, diante da presença de Sua glória”. Aqui está o aperfeiçoado e o perfeito. Somos perfeitos porque Ele nos guarda de tropeçarmos; seremos aperfeiçoados porque Ele nos apresentará inculpáveis diante da presença de Sua glória. O perdão dos meus pecados na cruz depende Dele; o poder que me cura e me mantém íntegro depende Dele; minha santificação, hora a hora, depende dele; minha apresentação final diante da presença da Sua glória, depende Dele. Somente na proporção em que você e eu percebemos que Ele é quem deve fazer isto, nesta mesma proporção é que chegamos ao lugar da bênção.
Mas, enquanto que a obra é Dele, tenho a responsabilidade de me colocar numa posição em que Deus possa fazer aquela obra; de manifestar a atitude a qual Ele responderá com Seu poder. Qual é a atitude?
2 Coríntios 6:17,18: “Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor;E não toqueis nada imundo,E eu vos receberei; E eu serei para vós Pai,E vós sereis para mim filhos e filhas, Diz o Senhor Todo-Poderoso”.
Tenho de tomar a atitude de separação e renúncia. Deus não nos chama para renunciar ao grande e fundamental princípio do pecado, porque não podemos. Deus nos purifica dele. Mas Ele nos chama para a renúncia do pecado como um princípio ativo em nossa vida, algo que cometemos em nossa livre e espontânea vontade.
(Revista à Maturidade, Número 12, Inverno de 1982)